ESPAÇOS CÊNICOS
O DROMEDÁRIO E SEUS ESPAÇOS CÊNICOS
Desde sua fundação, o Grupo de Teatro O Dromedário Loquaz tem utilizado espaços cênicos não convencionais para a encenação de seus espetáculos. Tal pesquisa dá-se tanto pelas possibilidades múltiplas da ocupação destes pelo ato cênico, como de realização de temporadas longas, que permitam tanto o aprimoramento técnico e artístico das montagens quanto a construção de público. Juntamente ao resultado artístico de seus trabalhos, o grupo tem valorizado também os espaços ocupados por suas montagens, permitindo ao público a visitação destes espaços sob uma nova ótica.
Anteriormente, o grupo já encenou espetáculos em diferentes espaços da cidade. O prédio da Antiga Alfândega, abrigou as montagens “A Importância de Estar de Acordo”, em 1981, “Curto Circuito”, em 1985 e “As Hienas” em l986; o espaço MultiMídia do CIC foi utilizado pela primeira vez com teatro com “Doce Vampiro”, em 1984; a Sala Fulanos e Florianos com “Pessoa(s)” em 1988 e o Prédio da Faculdade de Educação – FAED recebeu, em 1994 “Agnus Dei”. Em 2002 uma ala desativada do prédio da Fábrica de Rendas e Bordados Hoepcke abrigou a encenação de Quinnipak – Mundos de Vidro.
Todas as experiências se revelaram positivas, tanto na receptividade do público, como no resultado estético dos espetáculos.
2006 /2008
JARDIM DAS DELÍCIAS
Autoria e Direção – Sulanger Bavaresco
2002 /2005
QUINNIPAK – MUNDOS DE VIDRO
Autor – Livre adaptação do romance Castelli di Rábia, de Alesandro Baricco, por Sulanger Bavaresco
Direção – Sulanger Bavaresco
O espaço cênico pesquisado pelo grupo Teatral O Dromedário Loquaz para a encenação de Quinnipak – Mundos de Vidro, é um bloco desativado das Fabricas de Rendas e Bordados Hoepcke, sito à rua Hoepcke s/n, no centro de Florianópolis. Esta propriedade, tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal, foi construída em 1913 e é um marco importante da arquitetura do inicio do século na cidade. O interesse do grupo em utilizar a ala desativada do prédio da Fábrica de Rendas e Bordados Hoepcke como espaço cênico, deu-se tanto pela sua localização (área central, fácil localização para divulgação e possibilidade de estacionamento nas ruas adjacentes), como pela multiplicidade de aproveitamento cênico permitido pela dimensão e características físicas do ambiente.
No espaço encontram-se antigas máquinas de tecelagem que foram assumidas enquanto cenário, recebendo iluminação especial e reforçando o momento histórico em que se passa a peça, quando o mundo vivia com espanto as transformações que a industrialização provocava em todos os setores da sociedade. Desde a elaboração do projeto de encenação, o grupo definiu a antiga Fabrica de Bordados Hoepcke como o espaço ideal para a montagem de Quinnipak – Mundos de Vidro. A sensibilidade dos proprietários do espaço, cedendo o uso do espaço ao grupo, revela como podem ser múltiplas as parcerias entre a iniciativa privada e os setores da produção cultural, valorizando a produção artística local e permitindo ao público em geral conhecer este importante patrimônio arquitetônico que funde-se com a história da cidade.
1995
AGNUS DEI
Autor – Livre adaptação do romance homônimo de Leonore Fleicher, por Sulanger Bavaresco
Direção – Sulanger Bavaresco
Cenografia: Sylvio Mantovani
Iluminação: Carlos Falcão e Sulanger Bavaresco
Em todo o processo de transição da obra literária original para o teatro, o Grupo buscou a construção de um texto que pudesse ser encenado em qualquer espaço. Desde o italiano, passando pelo arena, até os mais inusitados. Tal elaboração deu-se em parte, pelas dificuldades em conseguir pauta por períodos expressivos nos teatros da cidade e, principalmente, pela tradição do Grupo em explorar o ato cênico em espaços alternativos.
A definição, por sugestão do cenógrafo Sylvio Mantovani, em outubro de 1994, do hall central da FAED – Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina, atual Museu da Escola Catarinense, para a encenação do espetáculo, com estréia prevista para 12 de janeiro do ano seguinte, culminou com o tratamento final do texto adaptado por Sulanger Bavaresco.
Ao desvendar as possibilidades de encenação neste prédio, construído na década de 20, optou-se pela ambientação de um convento, utilizando as escadas, portas, pilares e varandas de sua arquitetura como elementos assumidos cenograficamente. A disposição do público deu-se de maneira frontal à cena. Embora essa definição remetia-se inevitavelmente ao palco italiano, nossa pretensão era a de acomodar os espectadores em bancos característicos de igrejas (impossibilitada por questões orçamentárias), tirando proveito dos diversos aspectos cenográficos em favor de uma leitura que situasse o público dentro do espaço de cena.
Além dos elementos presentes no prédio, foi instalado um enorme portão de ferro localizado em primeiro plano, alternando sua posição (aberto ou fechado) em função das cenas, e dois bancos de jardim envelhecidos em uma área coberta por folhas secas. A limpeza da cena deu-se tanto pela valorização do espaço assumido para a representação, quanto pela definição da direção cênica em destacar a atuação dos intérpretes em um ambiente livre de excessos . Como adereços à ambientação e exigências prementes de determinadas cenas, utilizamos: castiçais com velas, baldes de madeira, bacia, jarro, vassoura, cestas, laranjas, flores, lampiões e pastas de arquivo.
O desafio para concepção da iluminação, num espaço tão grande com a disposição de um equipamento mínimo foi vencido pelo intuito de tirar proveito máximo de suas possibilidades físicas. Portas, varandas, escadas, corredores e pilares possibilitaram recortes de iluminação, contra-luzes e projeção de sombras, em muitos casos a partir do uso de lâmpadas comuns. A utilização de velas e lampiões de querosene resultaram da pesquisa de utilização de luz natural. O resultado obtido enriqueceu a ambientação cênica proporcionando uma atmosfera misteriosa e ritualista, propicia ao desenrolar das cenas.
O espetáculo realizou duas temporadas neste espaço, mas foi apresentado em outros cinco espaços diferentes, sendo que, quando apresentado em auditórios valeu-se do uso de quatro pilares, dois bancos de jardim e folhas secas no chão como únicos elementos da versão cenográfica original.
Na cidade de Tubarão o espetáculo foi apresentado no auditório da UNISUL. Na cidade de Itajaí o espaço utilizado foi a sala para espetáculos da Casa de Cultura Dide Brandão. Em Criciúma, participando do Festival Catarinense de Teatro, o grupo optou por utilizar o Hall de entrada do Teatro Elias Angeloni, dispondo o público em semi arena e fazendo uso das escadas e varandas existentes no local. Em Concórdia, a apresentação deu-se em um bar, com o público disposto no salão e piso superior, enquanto a representação ocorria na área em frente ao balcão do bar.
Ainda em Florianópolis, o Grupo encerrou as atividades ligadas ao espetáculo no Teatro Álvaro de Carvalho, apostando em um uso inusitado ao espaço tradicional. Na oportunidade, foi utilizada a caixa cênica do Teatro Álvaro de Carvalho como área comum para acomodar o público e a encenação. Fechou-se a cortina do palco, isolando-o da área da platéia. O público foi acomodado em arquibancadas dispostas em semi-arena. O acesso do público ao palco deu-se pela porta dos fundos do teatro, utilizada para carga e descarga de cenários. Logo em sua entrada, o público deparava-se com um portão fechado e o teatro as escuras, iluminado apenas por castiçais de velas carregados por freiras. O portão era aberto por uma delas e o público era conduzido pelas luzes das velas até seus lugares. O espetáculo utilizou a caixa cênica do teatro em toda a sua potencialidade. Como as pernas e o ciclorama encontravam-se suspensos, todo o espaço estava desnudo ao público, que assistia as cenas desenrolarem-se nas coxias, nas portas dos camarins, nas escadas de serviço e nas varandas do palco. Os recortes, sombras e contras desenhados pela iluminação contribuíram para que o grupo atingisse o objetivo de criar, neste espaço incomum ao olho do espectador que desconhece os bastidores do teatro, uma atmosfera de mistério e suspense.
(texto de Sulanger Bavaresco)
1986
AS HIENAS
Autor – Bráulio Pedroso
Direção – Isnard Azevedo
Segundo a direção, a concepção cênica desta montagem, parte de uma nova leitura do texto, que buscasse uma narrativa apoiada exclusivamente na interpretação dos atores, tomando seu corpo como limite último de sua dimensão emocional.
Para tanto, foram eliminados quaisquer recursos, cenográfico ou de iluminação. Para um reforço na compreensão da proposta, era preciso que tudo fosse absolutamente real.
Considerando-se estas questões geradoras, foi encontrado um espaço que se adaptava perfeitamente às características da proposta, novamente no prédio da Antiga Alfândega, só que no primeiro pavimento, uma ampla circulação, com um pé direito de quase 5 metros de altura; com uma sequência de portadas; com uma escada de madeira central, com um peitoril em balaustradas de madeira. A ESCADA, elemento narrativo principal do texto, um elemento existente... a negação do espaço cenográfico de representação.
O piso de madeira, em largas tábuas, davam uma unidade tanto para a representação como para o público, uma vez que as cadeiras se localizavam no mesmo plano.
Mais uma vez, uma experiência interessante. A relação público/espetáculo, mantem características italianas, de cena frontal, entretanto, rompendo-se elementos distanciadores, tais como desníveis cena/público e principalmente toda a questão cenográfica/ilusionista, por certo o grupo não se vale de definições únicas para o desenvolvimento de seu trabalho, confirmando seus objetivos de pesquisa e renovação cênica.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)
1983
NÓ CEGO
Autor – Carlos Vereza
Direção – Isnard Azevedo
Para este espetáculo, foi utilizado o Teatro Álvaro de Carvalho, um prédio do início do século, com palco italiano, mas que apresentava simultaneamente, outras alternativas de representação adequadas à conceituação proposta pela direção.
O espetáculo iniciava no saguão do teatro, de uma forma ritualista, onde figuras encapuzadas (indicadas no texto) lavavam em alguidares de barro com água de flores, diversos pedaços de um corpo humano esquartejado.
O público era então encaminhado até o palco, por um túnel existente sob a platéia, no qual outras figuras repetiam o mesmo ritual. Desta forma o público assumia um posicionamento processional até o palco, onde localizava-se uma estrutura de madeira – A FORCA -, com 8 metros de altura e 3 X 3 de base. Esta estrutura tinha uma presença tão marcante , que induzia o público a um percurso circular em seu torno, constituindo A PRAÇA, antes de serem energicamente conduzidos por um dos personagens “Guarda Barbosa”, até a platéia.
A partir deste momento o espetáculo tinha uma narrativa em palco italiano, permanecendo assim até o seu término, quando então o público era levado pela iluminação do teatro, que havia sido colocada toda em resistência, até o saguão.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)
1985
CURTO CIRCUITO
Autor – Timochenco Wehbi
Direção – Isnard Azevedo
O Dromedário Loquaz volta a sala da Antiga Alfândega para a montagem de Curto Circuito.
O texto era extremamente importante para o elenco e direção, pois pela primeira vez estaríamos enfrentando personagens, um desafio por vencer.
A direção então optou por uma leitura construtivista do texto, reforçando cenicamente o grande jogo/quebra cabeça/memória proposto pelo autor.
No mesmo espaço onde anteriormente já havíamos montado outros dois espetáculos, construímos um espaço de representação com aproximadamente 60m2. divididos em 7 planos distintos para quadros diferenciados, tais como:
- A Escola / O Cinema
- Casa de Celinha (namorada de Kim)
- Casa de Kim
- A Praça / Acesso às casas / O Bordel / O Bar
- A prisão do Professor Cardoso / O Bordel
A relação com o público permanece frontal, italiana, planos distintos sem interpretação, porém envolvidos por um único espaço, caixa maior que anula as diferenças e aproxima as sensações.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)
1984
DOCE VAMPIRO
Autor – Carlos Carvalho
Direção – Isnard Azevedo
Este espetáculo retoma para o Dromedário Loquaz, a questão cênica centrada na diferenciação entre TIPO e PERSONAGEM. O texto permite uma continuidade neste exercício de criação tanto para os atores como para a direção.
A narrativa caricata buscava um espaço adequado.
O encontramos no auditório da Escola de Música do Centro Integrado de Cultura em Florianópolis. Um espaço extremamente interessante, de forma quadrangular, com um pequeno palco em um vértice e com escalonamento suave para colocação de cadeiras para ensaio com instrumentos.
Foi acrescentada uma passarela ligando o palco com a circulação por trás do último desnível, criando-se desta forma os seguintes espaços de representação:
- Palco
- Passarela
- Espaço por trás do público
- Todas as combinações possíveis
O espetáculo possibilitava mais uma vez, um contato direto entre atores e público, mas aqui com uma diferença mais acentuada, uma vez que a plateia sentava-se diretamente nos desníveis mencionados, sem cadeiras. O público então era envolvido pela representação, de uma maneira muito peculiar, numa relação física que evidenciava aspectos de representação em “cena italiana”, em “semi-arena”, ou ainda de participação ou mesmo “elisabetano”.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)
1983
QUE SE PASA CHÊ?
Autor – Carlos Carvalho
Direção – Isnard Azevedo
O espetáculo Que se Pasa CHÊ? Foi igualmente apresentado no palco do Teatro Álvaro de Carvalho, utilizando-se de toda a sua potencialidade cênica como palco italiano.
Foi propositadamente uma experiência conceituada para uma visão frontal, com cortina fechada, jogos de iluminação e planos de representação diversificados dentro de uma grande caixa preta, sem nenhum recurso cenográfico fixo.
Todo o espetáculo seguia uma linha circense apoiada em elementos cênicos, reforçando a composição de tipos e quadros sequenciados indicados pela direção.
O texto era todo estruturado em quadros, permitindo uma liberdade de criação tanto na composição dos diversos tipos como também na própria ocupação do espaço cênico para uma melhor condução da narrativa proposta.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)
1982
EXERCICIOS, JOGOS E CENAS
Autor – Criação Coletiva
Direção – Isnard Azevedo
Este espetáculo foi encenado nas instalações do Museu de Arte de Santa Catarina, no mesmo espaço utilizado na montagem anterior “A IMPORTÂNCIA DE ESTAR DE ACORDO”. Entretanto, aqui o espaço torna-se novo e conceitualmente diverso, na medida em que cria-se uma semi-arena delimitada por três filas de cadeiras tendo como plano de fundo, na cena, as portadas originais do prédio.
Os atores iniciam sua movimentação por trás do público, adentrando no espaço de representação através dele, criando com isto um forte impacto visual e ao mesmo tempo tornando o ato cênico como uma ação ritual da qual o público não se sentia excluído.
Toda a movimentação dos atores e de uma maneira geral todo o desenho cênico, obedecia à linha definida pelo posicionamento do público além de um forte eixo centrado nestas relações.
O espetáculo manipulava um único elemento “A MÁSCARA”, e simbolicamente usava o fogo como elemento chave para o ritual de poder e morte que a cena apresentava.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)
1981
A IMPORTÂNCIA DE ESTAR DE ACORDO
Autor – Bertold Brecht
Direção – Isnard Azevedo
Para a apresentação deste espetáculo, a direção optou por um espaço alternativo, o salão de exposições do Museu de Arte de Santa Catarina, um prédio histórico onde funcionava a antiga Alfândega do Estado.
O espetáculo foi construído a partir de uma estrutura axial, fixando dois extremos onde em cada um, se localizavam uma cadeira, um cavalete de madeira, sobre este afixado um painel de tecido onde se lia “O HOMEM NÃO AJUDA O HOMEM” e, no outro, “A IMPORTÂNCIA DE ESTAR DE ACORDO”; apoiados nos cavaletes, dois bonecos executados com tecido branco caracterizados como aviador e mecânico ( personagens).
Para limitação do espaço, foi utilizado um material base: jornal, como suporte conceitual para a proposta cênica, ora em longas tiras sobre o espaço de representação, ora recobrindo as paredes e painéis que se localizavam inclusive por trás do público, que desta forma se sentia envolvido por tal signo.
A distribuição do público dava-se em duas filas de cadeiras no lado direito e três no lado esquerdo, constituindo o chamado Espaço AXIAL de representação e estabelecendo uma relação física direta com a encenação.
Os demais efeitos considerados necessários como reforço ao texto ou a um desenho cênico eram executados pelos próprios atores manipulando lanternas. Os recursos técnicos auxiliares foram mínimos, sendo utilizado apenas um foco simples de 40 watts sobre cada um dos cavaletes.
(Texto de Isnard Azevedo em trabalho acadêmico para a disciplina As Concepções do Espaço Cênico, do professor Clovis Garcia – Escola de Comunicação e Arte – ECA, 1990)